Começo, meio e fim - A crise do Schalke 04 em detalhes
- Schalke 04 Brasil
- 9 de jan. de 2021
- 13 min de leitura
Atualizado: 25 de fev. de 2023

O estopim da crise multifacetária do clube, ao contrário do que muitos pensam, não foi decretado com a sequência de 16 jogos sem vencer do time sob o comando de David Wagner, lá no início de 2019. Muito antes disso, a torcida já via com maus olhos a atuação dos últimos três diretores esportivos que passaram pelo clube: Horst Heldt (2010/11 – 2015/16), Christian Heidel (2016/17 – 2018/19) e Jochen Schneider (2018/19 – hoje).
Diferentemente da cultura do nosso país, o diretor esportivo possui um papel muito mais ativo e vertical na Alemanha, principalmente de grande expressão, como Schalke, Bayern e Dortmund. Lá, eles são o primeiro canal de comunicação do clube com a imprensa, dão entrevistas semanais junto com o treinador e até mesmo integram o banco de reservas da equipe junto com os jogadores suplentes e comissão técnica, seja dentro ou fora de casa.
ADMINISTRATIVO/DESEMPENHO
A gestão Heldt (03/2011 – 05/2016)

Horst Heldt tomou posse da direção esportiva do clube no dia 16 de março de 2010, após a saída de Felix Magath, que atuava como um Manager (treinador com funções executivas e técnicas de diretor) dentro dos azuis-reais. Durante seus 5 anos de gestão, Heldt acumulou inúmeros atritos com a torcida do Schalke, sendo o principal deles condizente à sua política de transferências implantada dentro do clube.
Logo em sua 1ª temporada como diretor, nomes como Manuel Neuer, Edú e Christian Pander, fundamentais à equipe nas temporadas passadas, saíram do time de maneira conturbada. Neuer foi para o Bayern no que então, na época, significava a venda mais cara da história do clube (€30M), Edú saiu por empréstimo para o Besiktas (TUR) e Pander mudou-se para Hannover a custo zero.
Daí em diante, a política foi se tornando cada vez mais rígida. Durante as temporadas 2012/13 a 2014/15, o clube só efetuou contratações de duas maneiras: por empréstimo ou de atletas free agents (livres no mercado). Matija Nastasic (emprestado pelo Man. City), Eric Maxim Choupo-Moting (free agent do Mainz 05), Pierre-Emile Höjbjerg (emprestado pelo Bayern) e Alexander Nübel (free agent do Paderborn) são alguns dos exemplos de contratados do período. Incorporou-se o elenco, assim, subindo garotos da base para o profissional. Atletas como L. Sané (Bayern), T. Kehrer (PSG), M. Friedrich (Union Berlin) e K. Ayhan (Sassuolo) foram alguns que assinaram com a equipe principal no período citado e passaram a fazer parte do elenco.
Sané - subindo ao profissional em 2014/15, Leroy foi pouco utilizado na Bundesliga, mas começou sua ascensão na vitória contra o Real Madrid, pelas oitavas da Champions League. Entrou no lugar do lesionado Choupo-Moting, marcou seu gol e o Schalke venceu por 4x3. A partir dali, foi consolidado na equipe titular e durante seu tempo no Schalke. Teve 57 jogos, 13 gols e 8 assistências.

Kehrer - polivalente desde que subiu (ZAG, LD e LE) só foi consolidado na equipe titular em 16/17 e ascendeu em 17/18, quando foi o zagueiro titular da equipe de D. Tedesco e um dos jogadores mais importantes na conquista do vice-campeonato. Fez 59 jogos ao total e marcou 4 gols.

Friedrich - não conseguindo ter o sucesso de Sané e Kehrer, Marvin Friedrich teve atuações sólidas na base e era uma promessa de um bom zagueiro, porém fez apenas 9 jogos no profissional do Schalke, com a maioria entrando apenas no fim da partida.

Ayhan - Ayhan prometia ser um jogador excepcional pelos seus desempenhos na base, onde fez 24 gols em 60 jogos, jogando de ZAG, sendo capitão e um exímio cobrador de faltas. Quando subiu ao profissional, em 13/14, jogou de VOL, ZAG e LE, onde fez 39 jogos e marcou 1 gol.

Em mai/2016, o contrato de Heldt terminou e a diretoria se viu bastante pressionada a não estender o vínculo com ele, que acabou por sair logo após o fim da temp. 2015/16, deixando quase nenhuma saudade aos fãs do S04. Atualmente, é CEO do Köln, cargo em que atua desde nov/2019.
Durante sua gestão, que durou 5 anos e 2 meses, 4 treinadores passaram pelo clube, sendo eles: Ralf Rangnick, Jens Keller, Roberto Di Matteo e Andre Breitenreiter. Além disso, 6 trocas no comando técnico foram feitas, visto que Seppo Eichkorn e Huub Stevens assumiram interinamente por um curto período de tempo em algum momento da gestão.
A gestão Heidel (05/2016 – 03/2019)

Uma nova era se iniciou na direção esportiva e, assim como todo profissional em seu início, Heidel quis impressionar e passar ares de ânimo para os fãs azuis-reais. Em sua primeira temporada no cargo, foi responsável pela segunda venda mais cara da história do clube, a de Julian Draxler (PSG) para o Wolfsburg, por €43M. A primeira, veio na temporada seguinte, quando Leroy Sané foi para o Man. City por €52M. No mesmo ano, o clube renovou a parceria contratual com a cia. russa de gases, Gazprom, resultando em uma injeção de capital nos cofres de Gelsenkirchen, utilizado, majoritariamente, em contratações feitas por Heidel, como Stambouli, Caligiuri, Coke, Burgstaller, Geis e Di Santo.
Caligiuri - Cali foi extremamente fundamental para o vice-campeonato de 17/18. Batedor de pênalti, falta, rei dos Revierderbies e até capitão, o ítalo-alemão fez 21 gols e deu 25 assistências em 130 jogos pelo S04. (Boatos que alguém treme vendo essa imagem...)

Coke - quando contratado, o lateral-direito espanhol chegou e se lesionou na pré-temporada, o que ocasionou queda de desempenho. Pelo Schalke, fez apenas 10 jogos e marcou 1 gol, na temporada 16/17.

Burgstaller - o CA austríaco chegou em 16/17 e, logo em seu primeiro jogo, marcou um gol no fim da partida de estreia, que decretou a vitória do S04 na época. Adiante, foi titular na maioria dos jogos. Conhecido pela raça, o atacante teve 32 gols e 13 assistências em 119 jogos.

Geis - o promissor volante alemão chegou ao Schalke em 15/16 e foi titular durante a maior parte da temporada, mas no ano seguinte não foi muito aproveitado. Também batedor de faltas, Johannes Geis fez 61 partidas pelo Schalke, marcou 5 gols e deu 8 assistências.

Di Santo - o atacante argentino chegou como uma grande promessa, mas fez incríveis 12 gols em 88 jogos pelo Schalke. Ficou durante 4 temporadas no clube.

Entretanto, o trabalho de Heidel foi para a guilhotina em dois quesitos: uso do patrocínio e vendas. As saídas a custo zero de T. Wellenreuther (GK), J. Matip (Liverpool), C. Fuchs (Leicester City) e S. Kolasinac (Arsenal) tornaram-se o acúmulo de insatisfações suficientes para que a torcida e a diretoria começassem a questionar o trabalho de Heidel perante o escudo azul-real.
Em sua defesa, o diretor sempre disse que os contratos de determinados atletas não eram renovados por desejos integralmente dos mesmos, mesmo o conselho tendo estado, em sua maioria, disposto a oferecer um novo contrato para tais atletas. A postura de Heidel abriu caminho para os fãs pressionarem mais ainda, onde argumentavam que, “se o atleta não deseja ficar, é porquê não lhe foram oferecidas ferramentas e condições justas e agradáveis para que permaneça”. Resumindo o que a torcida realmente queria dizer: “se eles não querem permanecer, é porque vocês não os podem garantir um time forte e competitivo”.
De maneira mais tenebrosa ainda, Heidel foi responsável por efetuar as três contratações mais caras da história do clube, Breel-Donald Embolo (Basel), Nabil Bentaleb (Tottenham) e Sebastian Rudy (Bayern), onde, juntos, custaram €61.5M ao Schalke.
Embolo - motivo da transferência mais cara da história do Schalke, o jovem atacante suíço chegou para ser decisivo no ataque do clube, mas sofreu com várias lesões e uma brusca queda de rendimento. Embolo fez apenas 12 gols em 61 jogos.

Bentaleb - fez 19 gols e deu 9 assistências em 105 jogos pelo Schalke. Apesar de ter mostrado qualidade com a bola, desempenhava com uma falta de ritmo e algumas lesões também.

Rudy - o meio-campista chegou para dar solidez ao meio-campo do Schalke, mas foi o único clube de sua carreira que ele não fez nenhum gol nem deu nenhuma assistência. Participou de apenas 30 jogos e não repetiu seu desempenho apresentado em Bayern e Hoffenheim.

Em meio às incertezas sobre seu trabalho e futuro no Schalke, Heidel assinou um acordo de demissão mútuo com os membros da cúpula administrativa do clube em mar/2019, pondo fim a uma gestão que gerou mais instabilidade e prejuízos à equipe do que se esperava em seu início. Hoje, Heidel comanda a diretoria esportiva do Mainz 05, clube onde começou como diretor e possui raízes extremamente fortes, haja vista que é nativo da cidade e sempre foi um torcedor do clube alvirrubro. Durante seus 2 anos e 10 meses de gestão, apenas dois treinadores foram contratados: Markus Weinzierl e Domenico Tedesco, onde nenhum outro membro do clube assumiu interinamente em algum momento.
A gestão Schneider (03/2019 – hoje)

Schneider assumiu a direção esportiva do clube no dia 05 de março de 2019, vindo com prestígio do RB Leipzig e com a missão de fazer o clube se tornar mais técnico e assertivo nas decisões esportivas fora de campo. Sua primeira grande ação foi trazer o Eurofighter David Wagner, no começo da temporada 2018/19, para comandar a equipe.
Após um início de trabalho positivo e esperançoso, o time desandou após a virada de ano, entrando em 2019 de maneira catastrófica. O técnico americano-alemão teve bons números na primeira metade da temporada, com 9 vitórias, 6 empates e 3 derrotas. Até aquele momento, o Schalke era o 5º colocado e chegou a ocupar a 3ª posição. Porém, em grande parte das vitórias era possível ver mais um desempenho positivo individualmente do que uma equipe que se sobressaía no coletivo. O time foi cada vez ficando mais previsível jogando num 4-4-2 losango, obtendo apenas uma vitória contra o Gladbach antes da pandemia.
Foram 11 derrotas e 6 empates, juntando partidas um pouco antes da pandemia até o fim da temporada 19/20. Mesmo quase sendo rebaixado, a diretoria decidiu manter Wagner para o começo de 20/21, e foi demitido após levar 11 gols em 2 partidas.
Números totais de Wagner:
40 J
12 V
12 E
16 D
1,20 DE PPJ
Seu Schalke marcou 50 gols e sofreu 74.

Assumindo um S04 que era sinônimo de sucessivos erros durante um período de 8 anos, Jochen se viu pressionado a aliviar a folha salarial, que havia disputado competições internacionais apenas uma vez nas últimas 3 temporadas, gerando consequências perenes no setor financeiro.
Para se ter uma ideia, o clube vinha participando de alguma competição europeia (UCL ou UEL) em todas as temporadas desde 2010. Logo, todos os balanços feitos pelo Conselho, levavam em consideração a classificação da equipe para algum desses torneios. Permanecer do lado de fora por quase três anos gerou uma instabilidade enorme no planejamento monetário do clube, impactando ações de curto, médio e longo prazo. Com isso, o diretor ex-Leipzig decidiu colocar os atletas de maiores salários no mercado.
Foi quando vimos, de maneira espantosa e repentina, o time anunciar a venda de Breel Embolo (sim, o reforço mais caro da história da instituição), após duas temporadas e meia de estadia azul-real, por quase 1/3 do valor que foi comprado, para o M’Gladbach. Além dele, Bentaleb e Rudy (lembram deles?) saíram por empréstimo para Newcastle e Hoffenheim, respectivamente, uma temporada e meia após chegarem. Fora eles, o arqueiro Ralf Fährmann também saiu, sendo emprestado a Norwich e SK Brann, da Noruega (na mesma temporada!). No Norwich, Ralf jogou 3 partidas, sendo apenas uma pela PL. Já no Brann, o goleiro sequer entrou em campo pela equipe, voltando ao S04 após solicitar ao clube norueguês que o liberasse para retornar a Gelsenkirchen no início da pandemia, visando ficar mais próximo da família.
Além de tudo isso, durante a gestão Schneider, diversos nomes do Conselho protagonizaram suas próprias histórias nos bastidores. De maneira cronológica, iremos apresentar o quê e como cada um dos membros fez para que a crise da equipe aumentasse ainda mais.
01/08/2019 – Clemens Tönnies discursa na Universidade de Paderborn, onde profere falas racistas (conteúdo do discurso na íntegra no link abaixo).
06/08/2019 – Tönnies é afastado do cargo por tempo indeterminado.
05/11/2019 – Conselho julga a situação de Tönnies. Nele, é decidido que o presidente retorna ao cargo no próximo dia útil, 06 de novembro.
06/11/2019 – Tönnies volta à presidência após um período de três meses afastado.
05/05/2020 – Thomas Spiegel deixou a direção de comunicação, mídia e relações públicas. Desde 2001 no clube, foi peça fundamental nas fases finais de construção da Veltins-Arena.
20/06/2020: Um surto de COVID-19 no frigorífico Tönnies, da família e coordenado por Clemens, fez com que autoridades alemãs suspendessem o funcionamento da fábrica por 14 dias. Nele, 1.553 dos 6.500 funcionários da empresa contrariam o vírus, obrigando a cidade, de 370 mil habitantes, a decretar um lockdown emergencial e estagnar a movimentação do distrito por 30 dias.
A mídia atribuiu toda a culpa a Tönnies, que fora pressionado pelas condições de trabalho impostas no período de crise global. Em depoimento, empregados relataram trabalhar em uma jornada de quase 13h, sem remuneração de horas extras, e em ambientes desagradáveis, com alto índice de umidade e temperaturas baixas.
Cada vez mais pressionado a tomar uma atitude responsável sobre o caso, Tönnies viu, após prometer realizar melhorias futuras nas condições de trabalho em Gütersloh, as ações da empresa despencarem junto com as do Schalke 04. E após uma boa “brasileirada”, o estado da Renânia do Norte-Vestfália decidiu por não responsabilizar, financeiramente, Tönnies pelo episódio na cidade, arcando, ele mesmo [Estado] com todos os danos causados pelo caso.
30/06/2020 – Tönnies decide renunciar ao cargo de presidente do S04. No mesmo dia, Jens Buchta, vice de Tönnies, assume provisoriamente a presidência do clube.
14/07/2020 – Nova divisão dos cargos dos membros do Conselho. Alexander Jobst, antes diretor de comunicação internacional, passa a ser diretor de marketing, vendas e organização.
24/11/2020 – Michael Reschke deixa o cargo de diretor técnico. Com visões diferentes de Schneider, a Board optou, no fim, por manter o segundo e desligar o primeiro.
Quanta coisa para uma única gestão, não? A vida de Schneider no Schalke jamais foi fácil. Ademais, no meio disso tudo, ocorreram inúmeros protestos por parte da torcida direcionados à atual gestão, com Tönnies, junto do próprio Schneider, sendo os alvos mais atacados.
Até hoje, 3 treinadores passaram pelas mãos de Schneider: David Wagner, Manuel Baum e Christian Gross, onde 5 trocas foram efetuadas (Huub Stevens assumiu, de novo e interinamente, a equipe em períodos de transição de gestão e/ou temporada).
Para ilustrar o assunto de maneira mais prática e um pouco menos metódica, vamos acompanhar o impacto de tudo isso nos números financeiros do clube, que sofreu baques no campo, nos bastidores, na cúpula conselheira e acabou perdendo, até mesmo, para o Coronavírus.
Curiosidade: Você sabia que, desde 2010, o clube nunca efetuou uma troca na diretoria ao fim ou no começo de uma temporada? Todas elas foram realizadas com o bonde andando, isto é, na metade da época. Um retrato melhor do que esse para estampar a crise atual? Impossível.
FINANCEIRO
Além de todos os problemas administrativos e esportivos apresentados anteriormente, erros inimagináveis e amadores foram cometidos com as finanças do clube. Para ilustrarmos esse problema, faremos uma breve análise de casos. Durante todo o século, o clube precisou pagar pela construção da Veltins-Arena, o 1º estádio 100% pago sem dinheiro público na Alemanha. Logo, sempre que comentamos sobre “a dívida”, estaremos nos referindo aos quase €200M necessários para pagar a obra. Importante tomar nota!
Como pode ser observado, nas últimas 11 temporadas, o time obteve um caixa negativo em 6 temporadas, sendo três seguidas no período de 2014 a 2017. Época em que, em nossa concepção, selou de vez o futuro do clube para o qual enfrentamos hoje.
Mesmo com um saldo positivo de 25M, sabemos que tempo é dinheiro. O fato de estar com um saldo negativo de 34M entre 2010/2017, fez com que o time utilizasse de outras receitas e até mesmo, postergasse o pagamento de dívidas, para tentar equilibrar o caixa. Isso certamente gerou juros e aumento da dívida.

Outro ponto importante de nossa análise consiste em apresentar onde o clube investiu seu dinheiro, em troca de novos ativos, em sua história. Por mais que essas sejam as principais contratações da história do clube, sua maioria ocorreu durante o início dessa fase ruim.

Está mais do que claro que as principais contratações da história do clube falharam. Além do prejuízo financeiro de incríveis 70M, com exceção de Huntelaar e Farfán, todos os outros jogadores que já saíram do clube, não conseguiram apresentar um bom desempenho, dado seus custos. Nabil Bentaleb e Sebastian Rudy estão prontos para sair de graça no final da atual temporada, aumentando assim, esse prejuízo para 105M. Isso explica muito de como uma má administração pode causar a um clube de futebol.
Além de analisar e contratar mal seus ativos, o Schalke 04 se mostrou pouco eficiente na manutenção ou negociação dos mesmos. A tabela abaixo mostra uma série de negociações ruins conduzidas pelo clube. A coluna “VDM” significa o valor de mercado do atleta na época da negociação:

O clube conseguiu ótimos negócios nas vendas de Sané, Neuer, Draxler e Kehrer. Infelizmente, um dos maiores conceitos pelo qual o clube é conhecido no Brasil, o famoso: “O Schalke 04 deixa muitos atletas saírem de graça”, é completamente verídico. Apenas na tabela anterior, caso o clube tivesse negociado os jogadores que saíram ao final de seus contratos, com base no VDM, teria arrecadado 127M a mais, na última década. Com apenas os jogadores citados, entre boas vendas e péssimos negócios, o clube deixou de arrecadar 83.3M. Retirando os jogadores com saldo positivo, o clube deixou de receber 147.3M, quase 75% do custo total da Veltins Arena.
O principal impacto causado pela pandemia, para o clube, certamente foi a impossibilidade de haver torcida nos estádios. Não apenas no sentido de apoio ao time durante as partidas, como também na arrecadação de bilheteria, nas partidas em nosso domínio.
Recentemente, foi noticiado que o clube possui uma média de 2M por bilheteria, independente da competição. Nas partidas nacionais, a lotação máxima é superior aos jogos internacionais. O motivo se dá por conta de algumas normas da UEFA, que exigem a todos os torcedores, um assento marcado. A diminuição de assentos é compensada por um leve aumento no preço dos ingressos, mantendo assim, o valor médio de bilheteria.

Na temporada passada, foram 4 partidas na Veltins Arena, após a retomada da Bundesliga, no clássico contra o Borussia Dortmund. Seguindo a bilheteria média, o clube deixou de arrecadar cerca de 8M no período. Já na temporada atual, o prejuízo é duas vezes maior: com oito partidas na Veltins Arena (apenas mandos de jogo), o prejuízo está na casa dos 16M. No total, 24M a menos no caixa do clube.
Trocas no comando
Em jun/2020, houve a saída do ex-CFO, Peter Peters, membro do clube desde 1996. Antes, em ago/2019, Peters foi criticado por ter tentando "passar pano" no discurso racista proferido pelo ex-presidente.
Quase três meses depois da saída de Peters, em out/2020, noticiamos a chegada da atual CFO (diretora financeira), a economista nativa de cidade e torcedora do clube, Christina Rühl-Hamers, após a saída de Peter Peters.
Importante ressaltar que, diferente do que foi dito em outra análise sobre o clube, o Schalke 04 não sofre com atrasos nos salários de seus atletas. Durante a pandemia, o elenco se reuniu e anunciou uma redução geral de 30% de seus salários, em um primeiro momento, até junho, o que foi expandido para todo o período de pandemia na Alemanha.
Ainda sobre salários, o clube adotou uma prática muito utilizada no Brasil, de emprestar jogadores encostados, pagando parte de seus salários. Isso ocorreu, mais recentemente, com Ralf Fährmann e Sebastian Rudy. Afinal, é melhor pagar metade e colocar um ativo para jogar, do que deixá-lo esquecido no banco de reservas. Além, é claro, de diminuir a folha salarial. No aspecto em questão, houve um acerto por parte da diretoria.
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Em março de 2020, noticiamos o aumento da arrecadação do clube em 2019, de 275M, a segunda maior da história do clube, apenas atrás de 2018, com 301.1M. Entretanto, a diminuição já mostrava que a arrecadação futura estava comprometida. Importante levar em consideração que esses dados representam apenas a arrecadação, sem os gastos e dívidas do clube.
Em maio de 2020, fizemos um resumo sobre a análise, de 2019, da empresa especializada em finanças e auditoria, KPMG. Mal sabíamos que as coisas iriam piorar ainda mais nestes sete meses seguintes… https://twitter.com/FCSchalke04BR/status/1267214055485341697/photo/3
Em jun/2020, noticiamos a criação do teto salarial para jogadores, de 2.5M, anunciado pelo clube. Algumas negociações na janela de verão não avançaram devido a tal. De qualquer forma, foi outro acerto da diretoria.
Um acúmulo de erros provocados por diversa gestões e diferentes personalidades. Isso é o que melhor resume a bola de neve em forma de crise que tomou conta do arredores de Gelsenkirchen e atingiu o Schalke 04. A perspectiva, enfim, não é de uma melhora próxima, e sim de um trabalho que levará anos para reparar os danos causados ao e pelo clube.

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