A curiosa relação do minério que deu combustível para a criação do Schalke 04

A indústria do carvão mineral fez com que a região do Vale do Ruhr fosse uma das mais prósperas da Europa pós-Segunda Guerra.

A história de alguns clubes ao redor do mundo está ligada às suas origens, sejam elas por colônias de determinados países, rebeldia da classe operária contra os mais ricos ou por uma forte influência industrial. Esta última foi o estopim para a fundação do nosso querido Schalke 04, na Alemanha.

A criação da equipe tem um minério que deu força para o sonho de construção de um time de futebol pelas bandas da Renânia do Norte-Vestfália. O minério em questão era o carvão, que vivia seu auge no século XIX e XX. Os fundadores do clube eram garotos aprendizes nas tantas minas que existiam na região, sem contar que vários mineiros fizeram parte da equipe.

Para contextualizar, a atividade carvoeira foi por muito tempo a principal fonte econômica de Gelsenkirchen, que chegou a ter 400 mil habitantes, muitos deles atraídos pela fartura que implodiu no local. A cidade ficou conhecida como a “Cidade dos Mil Fogos”, atributo em referência aos fogos das indústrias.

Os anos 30, 40 e 50 foram excelentes para a região e também para o Schalke 04, já que foi o momento mais vitorioso do clube, prova disso é que todos seus títulos da Bundesliga foram nessas décadas. Então 1960 chegou e a abundância não parecia ter fim, visto que o local era líder na produção de carvão e as pessoas tanto da Alemanha quanto de outras partes do mundo iam à cidade.

Porém o declínio viria a partir de 1980, com a popularização do petróleo, a região do Vale Ruhr sentiu muito a mudança que o mundo enfrentava. E o golpe fatal naquela abundância veio em 2000, quando a Alemanha tomou a dianteira para medidas de proteção ao clima, incentivando as pessoas a consumirem energia limpa, fato que culminava com o fim das minas de extração de carvão.

Neste mesmo ano fechou-se a última mina de extração do minério em Gelsenkirchen. A Mina de Ewald-Hugo encerrou suas atividades em 28 de abril de 2000.

O baque para a região foi enorme, com o número de evasão populacional chegando acima dos 30%, mesmo com medidas para evitar os danos sociais, por exemplo, com aposentadorias precoces para os mais velhos e treinamentos aos mais jovens. Outro fator que a cidade enfrentou foi a alta na taxa de desemprego, chegando aos 15%, em 2019, e a renda per capita era a mais baixa da Alemanha, 16.206 euros (101 mil reais).

Hoje em dia algumas providências foram tomadas para dar outra vida a região. Podemos citar a criação de um polo de energia limpa, que conta com aproximadamente 60 empresas e institutos de pesquisa, entre elas uma das maiores usinas solares da Alemanha.

O Schalke 04 sempre deu grande importância ao seu passado, prova disso são algumas ações que remetem a sua fundação. Exemplo foram a inclusão dos instrumentos de trabalho dos mineiros no escudo do clube e a construção de uma simulação de mina de carvão na entrada dos vestiários na Veltins-Arena, em 2014.

Homenagens também foram feitas aos trabalhadores durantes os jogos do Azul Real. No vídeo abaixo é possível ver a grande festa que os torcedores fizeram contra o Bayer Leverkursen, em 2018. Nesta partida o S04 convidou 2 mil funcionários de uma mina recém-fechada. A festa contou com um grande mosaico feito pelos torcedores com referência a mina. Como retribuição, o clube foi presenteado com a última lanterna usada na mina.

Outra homenagem ocorreu na partida frente o TSG 1899 Hoffeinheim, em 2015, quando 70 mil pessoas presentes na Veltins-Arena homenagearam os mineiros da mina Auguste Victoria Marl, que fecharia suas atividades pouco tempo depois. Na ocasião foi entoada a canção Steigerlied, música tradicional da mineração alemã.

Muito bom saber que o Schalke 04 faz questão de relembrar seu passado, dando importância ao que foi o início de tudo. Sua fundação, seu grande momento, o grande momento da cidade estavam presentes os mineiros e nada mais justo que sempre que possível serem lembrados.

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