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FC Schalke 04 e o Nacional-Socialismo: qual foi a verdadeira relação?

Atualizado: 25 de fev. de 2023



Quando o assunto é futebol fora das quatro linhas, dificilmente conseguimos pensar em contextos que não o-insiram no âmbito político. Verena Scheuble, renomada cientista política alemã e amante de esportes profere, em seu livro, Fußball und nationale Identität (2006) – Futebol e identidade nacional, em tradução livre – a seguinte reflexão: “Os jogos de futebol não podem ser separados da política e da identidade nacional”. Tendo em vista tal relação, o torcedor azul-real mais fanático já pode imaginar de que assunto se trata a conexão do Schalke 04 com a ciência política. Visando esclarecer, de maneira finalista, a real situação envolvendo o clube e o Nazismo, a equipe da FC Schalke 04 Brasil traz o mais completo e detalhado referencial histórico, social e bibliográfico sobre a turbulenta época alemã, e suas implicações perante o Schalke 04.

O futebol veio da Inglaterra para a Alemanha no final do século XIX. O movimento futebolístico não era explicitamente político e competia, no âmbito, com a ginástica, que tinha como representante o Barão Pierre de Coubertin, ativista político popular da época. A recepção e adequação do povo germânico às novas mídias - como o rádio e os jornais – acelerou a popularização do futebol, que se tornou um movimento de massa moderno na década de 20. Ao fim dos anos 30, o esporte floresceu de forma estrondosa nos regimes fascistas, que investiram muito dinheiro na então nova cultura de massa, com a ajuda da encenação coletiva que os eventos esportivos proporcionavam. Os contrastes entre “vitória” e “derrota”, “triunfo” e “catástrofe” e entre “amigo” e “inimigo” foram os atributos utilizados pela propaganda nazista para conquistar a população e promover o esporte a seu favor. O regime instrumentalizou o futebol para seus próprios fins e amarrou os atores (clubes, associações e atletas) em sua própria política desumana. Isso levou à uma questão acerca das associações esportivas, clubes e atletas deixarem envolver-se pelo regime nazista. O futebol se beneficiou do nacional-socialismo?

Burocracia bibliográfica


A busca por fontes que pudessem responder a essas perguntas acabaram sendo muito difícil no caso do Schalke, porquê, em primeiro lugar, o arquivo do clube foi completamente destruído em um bombardeio na região no outono de 1944 e, em segundo lugar, as várias publicações do clube (por exemplo, crônicas, publicações de aniversário e livros de fãs) só podem ser usados até certo ponto para trabalhos acadêmicos, pois algumas dessas publicações são de natureza ensaística ou, pelo menos algumas, transmitem a impressão de que o futebol é uma área apolítica da vida. A apresentação da história do clube entre 1933-1945 é limitada a eventos esportivos, por exemplo. Em alguns casos, o Nacional-Socialismo não é mencionado de forma alguma ou dificilmente considerado para tal.

A equipe de Gelsenkirchen foi a primeira associação a ter sua história processada cientificamente durante a ditadura nazista entre 1933 e 1945. O fato de a Die Knappen celebrar seis de seus sete campeonatos alemães até o momento durante a era nazista é particularmente intrigante para alguns cientistas políticos.

Por isso, especulou-se repetidamente que os azuis-reais eram particularmente próximos do nacional-socialismo.


Durante um ano e meio, os historiadores Stefan Goch e Norbert Silberbach examinaram os enredos da associação e seus atores mais importantes na era nazista, visando desenvolver o estudo "Entre o azul e o branco está o cinza", apresentado em Gelsenkirchen no ano de 2005. O estudo foi fruto de um pedido da prefeitura da cidade que, ao temer entrar em crise nos setores financeiros, turísticos e de empregabilidade na região (devido justamente às acusações envolvendo o clube dos arredores, o Schalke), encomendou a vasta pesquisa a dois dos mais respeitados historiadores nacionais, que levaram dezoito meses para concluir o feito. O resultado não é louvável para o clube, como também não é um veredicto condenatório para os mineiros. "A associação e seus membros eram tão bons e tão ruins quanto os alemães e a população local de Gelsenkirchen sob o nacional-socialismo como um todo", resume a pesquisa. Conforme relatórios locais, a associação se livrou de seus membros judeus anteriormente importantes, além do fato de que uma série de funcionários e jogadores até se juntaram ao Partido Nacional-socialista após a tomada do poder, de acordo com o estudo.

Jogos não foram manipulados

Uma atenção especial é dada ao ídolo Fritz Szepan, um dos inventores do famoso Schalker Kreisel. Como um dos poucos atletas ativos, ele se juntou ao partido nazista e repetidamente se comprometeu com o estado, assinando apelos eleitorais pelos nacional-socialistas, por exemplo.


Pior ainda: de acordo com o estudo, ele lucrou com a política de arianização dos nazistas, a expulsão de judeus da vida empresarial. No terceiro Reich, o jogador assumiu uma empresa têxtil judaica em 1938, cujo dono foi forçado a vendê-la. "Existem poucas razões para suspeitar que Fritz Szepan não estava ciente desse estado de emergência entre os proprietários de negócios judeus", diz Goch. A renda anual da família Szepan aumentou cerca de dez vezes ao assumir o negócio têxtil.

Uma outra estrela do Schalke nos anos 30, 40 e 50, Ernst Kuzorra, também era membro do partido nazista. De acordo com o estudo, ele também assinou alguns dos apelos eleitorais dos nacional-socialistas na época. De fato, houve definitivamente manchas cinzas e tenebrosas na camisa azul-real durante o período.

Führer jamais se envolveu

Contudo, havia uma coisa que, apesar de todas as especulações, certamente era incorreta: a hipótese de que foi uma ordem do líder que ajudou o Schalke a conseguir uma sequência de vitórias sem precedentes na década de 1930. “Apesar dos rumores em contrário, não há evidências de jogos manipulados, seja a favor ou contra o Schalke 04”, contam os autores. O Schalke era, de fato, apenas o melhor time da época, fato que justifica suas glórias.

Impactos atuais

Hoje, o assunto já não é mais tão comentado nos países europeus como é aqui no Brasil, talvez pela diferença na localidade e recepção das informações, além do nível intelectual distinto. Como marco histórico no “ponto final” colocado pelos alemães no tema, a rua da sede do clube, que antes levava o nome de Fritz Szepan, detém hoje a honraria a outro ídolo do clube, Ernst Kuzorra (Ernst-Kuzorra-Weg 1), dado os fatos sobre o envolvimento de ambos na história primitiva do clube.

Ademais, alguns pontos notáveis também podem ser considerados para uma análise mais investigativa no caso. Coisas como o emblema do clube e o seu nome completo (que, desde 1925, segue sendo FC Gelsenkirchen-Schalke 04 e.V.) não foram alterados durante o regime nazista, intencionando hipóteses de que a instituição não realizou conexões diretas com a ditadura populista da época, bem como não teve seus desempenhos influenciados pelo terceiro Reich.

É notável que, ao afirmar que o Schalke 04 foi um clube nazista, o indivíduo que profere tal acusação comete um equívoco sem precedentes, haja vista a apresentação dos fatos sobre a história verídica e a comprovação bibliográfica de que o Partido Nacional-Socialista apenas utilizava do futebol para manipular suas intenções de domínio e poder, surfando na onda do clube que mais vencia jogos, títulos e fãs e na época, o Schalke 04.

 
 
 

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